PRODUÇÃO DE LEITE OVINO: REVISÃO

 

SÁ,J.L. e OTTO de SÁ,C.

 

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    Nos últimos anos, tem aumentado a necessidade em mudar o sistema extensivo de criação de ovinos para um sistema mais intensivo. Neste sistema, a disponibilidade de alimentos durante o ano é constante e a produção mais eficiente (CAVANI et al., 1991). Com esta mudança, aumentou o interesse em pesquisar a produção e a composição do leite de pequenos ruminantes (FUENTE et al., 1997). A produção de leite de ovelhas é a principal fonte de nutrientes para os cordeiros durante as primeiras semanas de vida (GODFREY et al., 1997) e, também, é importante para o mercado de leite no que diz respeito, principalmente, à produção de queijo e outros derivados (PEETERS et al., 1992).

    Raças com maior aptidão leiteira têm sido utilizadas em programas de cruzamentos com raças nativas ou raças com aptidão para a produção de carne, com a finalidade de formar fêmeas mestiças, com uma produção de leite superior e, consequentemente, capazes de desmamar cordeiros mais pesados. Neste caso, a produção de carne de cordeiros é dependente da maior produção de leite de suas mães (PEETERS et al., 1992; HASSAN, 1995; GODFREY et al., 1997). No que diz respeito ao leite produzido para o consumo humano, praticamente em todo o mundo, ele é transformado em queijo. Por esta razão, quando se avalia a qualidade do leite, atenção maior deve ser dada para a capacidade deste leite ser transformado em derivados, e na quantidade de derivados produzidos por litro de leite. A composição do leite tem uma grande importância no seu beneficiamento (BENCINI & PULINA, 1997).

    Muitos fatores que contribuem para as variações na produção e na qualidade do leite de ovelhas têm sido descritos, tais como, o ambiente, a raça, idade da ovelha, estágio da lactação, número de cordeiros ou técnicas de ordenha, estado sanitário e infecções de úbere, manejo do rebanho e nível nutricional durante a gestação e lactação (PEETERS et al.,1992; BENCINI & PULINA,1997). Temperaturas elevadas podem inibir a produção de leite. GODFREY et al. (1997), ao avaliarem a produção de leite de ovelhas deslanadas e lanadas, nos trópicos, com uma temperatura média de 30,6oC, observaram que ambas as raças produziram quantidades similares de leite, durante 63 dias de lactação. Embora não tenha sido observado neste experimento diferenças entre as raças, o genótipo das ovelhas pode afetar tanto a quantidade quanto a qualidade do leite produzido. BENCINI & PULINA (1997) citam, que a raça Awassi, com aptidão leiteira, pode produzir cerca de 1000 litros de leite na lactação, enquanto que a Poll Dorset, com aptidão carne, produz somente 100-150 litros de leite por lactação. Outros autores também observaram a influência do genótipo na lactação (BOUJENANE & LAIRINI, 1992; PEETERS et al., 1992; SAKUL & BOYLAN, 1992; IZADIFARD & ZAMIRI, 1997). Segundo HASSAN (1995), o cruzamento de raças nativas com raças de elevada produção, seja ela de carne ou de leite, é o método mais rápido para melhorar a eficiência do rebanho. Entretanto, nem sempre isto é possível, devido aos problemas da importação de animais. Neste caso, é importante conhecer a produção de leite das raças locais e tentar selecionar para elevar a produção das mesmas (SAKUL & BOYLAN, 1992).

    Ovelhas de primeira cria, produzem menos leite do que ovelhas mais velhas, e a produção máxima é geralmente alcançada na terceira ou quarta lactação, sendo que após, a tendência é ocorrer uma redução da produção de leite por lactação (BENCINI & PULINA, 1997). No trabalho realizado por HASSAN (1995), raças nativas do Egito não diferiram significativamente na produção de leite com relação à idade, mas nota-se uma tendência de ovelhas com 3 e 4 anos, apresentarem as maiores produções e uma maior persistência da lactação. Além da idade da ovelha, a produção e a composição do leite podem estar relacionadas com o estágio da lactação. Segundo CHURCH (1984), o pico da lactação ocorre entre a segunda e a quarta semana após o parto, entretanto, este resultado é variável entre os diferentes trabalhos. BENCINI & PULINA (1997) citam que o pico de produção ocorre entre a terceira e a quinta semana da lactação. Na pesquisa realizada por BOUJENANE & LAIRINI (1992), as raças Sardi, D’man e seus cruzamentos, apresentaram o pico de produção na primeira semana de lactação. Já HASSAN (1995), demonstrou em seu trabalho, que o pico de lactação para raças de alta produção leiteira, pode ocorrer mais tarde, em torno da sétima semana após o parto. Depois do pico, o declíneo da lactação pode ocorrer mais ou menos rapidamente, em função do genótipo ou do potencial individual para a produção de leite (BENCINI & PULINA, 1997). Para ovelhas que permanecem com os filhos, o declíneo na curva de lactação é explicado pela diminuição da intensidade de sucção dos cordeiros, devido ao comportamento da mãe em restringir a amamentação. Também, a maior ingestão de alimento sólido por parte dos cordeiros, diminui a necessidade do consumo de leite (PEETERS et al., 1992).

    Ovelhas de parto gemelar produzem mais leite do que ovelhas aleitando um único cordeiro (CHURCH, 1984; GODFREY et al., 1997). Entretanto, na revisão realizada por GODFREY et al. (1997), relata-se que o número de cordeiros nascidos por ovelha, pode não afetar a produção de leite, se eles forem separados até 7 dias de idade, aleitados artificialmente e a ovelha ordenhada manual ou mecanicamente. No caso de ovelhas ordenhadas duas vezes por dia, a produção e a composição do leite proveniente da ordenha da manhã, é diferente da ordenha da tarde. FUENTE et al. (1997), obtiveram uma maior produção de leite na ordenha da manhã, quando trabalharam com um intervalo entre as ordenhas da manhã e da tarde de 10 horas. Inversamente à produção de leite, os teores de gordura, proteína e células somáticas foram superiores no leite proveniente da ordenha da tarde. PEETERS et al. (1992) também obtiveram níveis maiores de gordura e sólidos totais na ordenha da tarde e, SIMOS et al. (1996), embora não tenham obtido diferença significativa entre a ordenha da manhã e a ordenha da tarde para a produção, proteína e lactose, obtiveram níveis maiores e significativos de gordura no leite da ordenha da tarde.

Há uma correlação negativa entre a produção e a composição do leite. Portanto, quando as ovelhas produzem mais leite, a concentração de gordura e proteína diminui. Esta relação é valida entre as raças de alta e baixa produção, bem como entre animais de maior ou menor produção de leite em um rebanho e, dentro de um mesmo animal, durante os diferentes estágios da lactação (BENCINI & PULINA, 1997). No experimento realizado por HASSAN (1995), à medida que a produção de leite diminuía ao longo da lactação, os teores de gordura e sólidos totais aumentavam. Altas contagens de células somáticas também podem alterar a composição do leite. As células somáticas estão correlacionadas com a saúde do animal, indicando uma qualidade microbiológica ruim quando em excesso. O número de células somáticas aumenta consideravelmente em processos inflamatórios ou patológicos da glândula mamária e provoca uma redução da gordura, caseína, sólidos totais e um aumento do nitrogênio total, nitrogênio não proteico e proteínas, no leite (BENCINI & PULINA, 1997).

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BENCINI, R. e PULINA, G. The quality of sheep milk: a Review. Wool Technology and Sheep Breeding, v.45, p.182-220, 1997.

BOUJENANE, I. e LAIRINI, K. Genetic and environmental effects on milk production and fat percentage in D'man and Sardi ewes and their crosses. Small Ruminant Research, v.8, p.207-215, 1992.

CAVANI, C.; BIANCONI, L.; MANFREDINI, M.; RIZZI, L. e ZARRI, M.C. Effects of a complete diet on the qualitative characteristics of ewe milk and cheese. Small Ruminant Research, v.5, p.273-284, 1991.

CHURCH,C. Alimentos y alimentacion del ganado. Montevideo: Hemisferio Sur - S.R.L. ,1984.

FUENTE, L.F.; SAN, P.F.; FUERTES, J.A. e GONZALO, C. Daily and between-milking variations and repeatabilities in milk yield, somatic cell count, fat, and protein of dairy ewes. Small Ruminant Research, v.24, p.133-139, 1997.

GODFREY, R.W.; GRAY, M.L. e COLLINS, J.R. Lamb growth and milk production of hair and wool sheep in a semi-arid tropical environment. Small Ruminant Research, v.24, p.77-83, 1997.

HASSAN, H.A. Effects of crossing and environmental factors on production and some constituents of milk in Ossimi and Saidi sheep and their crosses with Chios. Small Ruminant Research, v.18, p.165-172, 1995.

IZADIFARD, J. e ZAMIRI, M.J. Lactation performance of two Iranian fat-tailed sheep breeds. Small Ruminant Research, v.24, p.69-76, 1997.

PEETERS, R.; BUYS, N.; ROBIJNS, L.; VANMONTFORT, D. e ISTERDAEL, J.V. Milk yield and milk composition of Flemish Milksheep, Suffolk and Texel ewes and their crossbreds. Small Ruminant Research, v.7, p.279-288, 1992.

SAKUL, H. e BOYLAN, W.J. Evaluation of U.S. sheep breeds for milk production and milk composition. Small Ruminant Research, v.7, p.195-201, 1992.

SIMOS, E.N.; NIKOLAOU, E.M. e ZOIOPOULOS, P.E. Yield, composition and certain physicochemical characteristics of milk of the Epirus mountain sheep breed. Small Ruminant Research, v.20, p.67-74, 1996.

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