ALEITAMENTO DE CORDEIROS
SÁ,J.L. e OTTO de SÁ,C.
1. INTRODUÇÃO
Os sistemas de produção de ovinos podem ser desenvolvidos com diferentes manejos de aleitamento e planos de nutrição. Isto resulta em diferenças nas taxas de crescimento e nas características de carcaça, que devem ser consideradas na escolha do sistema de produção a ser utilizado (VERGARA & GALLEGO, 1999). O aleitamento artificial é um tipo de manejo que consiste na separação do cordeiro de sua mãe logo após o nascimento, e pode ser utilizado para diferentes fins (CHURCH, 1984). Nos programas acelerados de parição, o aleitamento artificial permite uma melhor fertilidade da ovelha, por eliminar o anestro provocado pela lactação (HANSEN & SHRESTHA, 1997). No caso de sistemas de produção de leite para o consumo humano, a ordenha pode começar praticamente no dia seguinte ao parto, se o cordeiro for aleitado artificialmente. Quando se trabalha com raças de alta prolificidade, o número de cordeiros por parto pode ser elevado ao ponto da ovelha não ser capaz de aleitar e desmamar todos os cordeiros. Nesta situação, os cordeiros devem ser separados da mãe e aleitados artificialmente, para garantir a sobrevivência, principalmente dos cordeiros mais fracos (DONEY et al., 1982).
No Brasil, o mais comum é a necessidade de aleitamento artificial por causa de uma insuficiente produção de leite, ou ainda, nos casos de morte da ovelha. Entretanto, o custo para aleitar um cordeiro artificialmente é extremamente elevado (KNIGHT ET AL., 1993), e devido ao pouco uso desta prática em algumas regiões ou até em países como o Brasil, nem sempre um sucedâneo do leite ovino de qualidade é facilmente encontrado.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Após o nascimento, a nutrição do cordeiro depende da produção de leite da ovelha, disponibilidade de forragens e suplementação alimentar (RODA et al., 1984). Elevar a produção de leite da mãe, significa acelerar o ganho de peso na fase de pré-desmame (LEWIS et al., 1990). Por isso, cordeiros de parto gemelar, normalmente apresentam um menor desempenho nesta fase (MAVROGENIS & CONSTANTINOUT, 1990 e MUNIZ et al., 1997). Embora, ovelhas que parem gêmeos, apresentem maior produção de leite, não chega a ser o dobro da produção de uma ovelha de parto simples, portanto, os cordeiros consomem menor quantidade de leite (CHURCH, 1984 e RAMSEY et al., 1994). No trabalho realizado por MUNIZ et al. (1997), os cordeiros nascidos de partos duplos foram mais leves em todas as idades estudadas, desde o nascimento até os 208 dias, entretanto, quanto aos ganhos médios diários, apenas o ganho do nascimento ao desmame foi maior para os cordeiros de parto simples.
Segundo PEETERS et al. (1996), a superioridade do ganho de peso de cordeiros de parto simples, diminui no final da lactação, provavelmente devido ao maior consumo de ração pelos cordeiros de parto gemelar. Na revisão realizada por estes autores, eles citam que cordeiros nascidos de parto gemelar, mas aleitados individualmente, apresentam uma taxa de crescimento intermediária, entre os nascidos de parto simples e, os de parto gemelar aleitados por uma única ovelha. Na pesquisa realizada por OTTO et al. (1997), os cordeiros de parto gemelar que receberam ração no creep feeding, tiveram o mesmo desempenho dos cordeiros de parto simples até a idade de abate (4 meses), e peso superior quando comparados com os cordeiros de parto simples que não tiveram acesso ao creep feeding.
O consumo de leite é um importante fator que influencia o crescimento durante as primeiras 3 a 4 semanas de vida. Entretanto, após o pico da lactação, o consumo de forragem pelos cordeiros aumenta, para compensar o decréscimo no consumo de leite. Porém, a inter-relação entre o consumo de forragem e o consumo de leite, não é bem conhecida (RAMSEY et al., 1994). ANSOTEGUI et al. (1991) observaram que bezerros que receberam menos leite, consumiram mais forragem do que aqueles que receberam mais leite. Em um dos experimentos realizados por RAMSEY et al. (1994), o consumo de matéria seca dos cordeiros de parto simples foi 3,4% do peso vivo e dos cordeiros de parto gemelar 4,5%.
Para cordeiros na fase pré-desmame, a suplementação com alimentos sólidos é importante para estimular o desenvolvimento do rúmen e, também, para suprir as exigências nutricionais, principalmente dos cordeiros com baixo consumo de leite (SANTRA & KARIM, 1999). No trabalho realizado por SANTRA & KARIM (1999), elevados níveis de proteína da dieta (22% PB e 27% PB) com níveis similares de energia, no creep feeding, foram perdidos nas fezes e urina, e não utilizados para aumentar o tecido corporal. Um teor de 18% de PB na ração do creep feeding, oferecida à vontade para cordeiros em aleitamento, resultou em uma melhor eficiência alimentar, e um ganho médio diário de peso na fase pré-desmame de 140g. O experimento foi realizado em uma região de clima semi-árido, onde a exigência de proteína é superior, quando comparada com a de cordeiros em regiões de clima temperado.
Em algumas situações, o aleitamento dos cordeiros tem que ser artificial. Neste caso, o desenvolvimento dos cordeiros dependerá da quantidade e da qualidade do leite oferecido, e da suplementação com alimentos sólidos. O início do aleitamento deve ser com o colostro da mãe. Se não for possível, o cordeiro deve receber o colostro de uma outra ovelha ou de um banco de colostro (congelado) (DOANE, 1999). SEVI et al. (1999) sugerem que uma transição gradual do leite materno para outro tipo de leite, é importante para minimizar o estresse de cordeiros recém nascidos, que vão ser aleitados artificialmente. No trabalho destes autores, o consumo de leite e a taxa de crescimento de cordeiros aumentaram, devido a transição gradual para o aleitamento artificial.
Quando substitutos do leite são utilizados no aleitamento, algumas recomendações descritas por DOANE (1999) devem ser observadas. Os melhores resultados são obtidos com sucedâneos contendo um mínimo de 30% de gordura e 24% de proteína. Se forem utilizados sucedâneos para bezerros, a gordura pode ser adicionada na forma de banha ou gordura do leite. Óleos vegetais não devem ser utilizados. O substituto do leite de cordeiros deve ser diluído com água, de forma a conter um mínimo de 20% de matéria seca.
Segundo revisão realizada por DOANE (1999), os cordeiros apresentam uma melhor performance se ingerirem o leite frio do que morno. O leite frio faz com que os cordeiros não mamem rapidamente, evitando problemas digestivos. Entretanto, é difícil ensinar o cordeiro a mamar em um equipamento de aleitamento artificial, se o leite for fornecido frio.
O custo do aleitamento artificial é elevado, por isso é interessante restringir o consumo do leite, forçando desta forma, o consumo de alimentos sólidos pelos cordeiros e um desmame precoce (DOANE, 1999). Para reduzir o custo do aleitamento de cordeiros, em rebanhos produtores de leite para o consumo humano, é possível fazer um manejo, de forma que os cordeiros permaneçam com a mãe, sem necessitar de aleitamento artificial, mas por um período limitado do dia, permitindo a realização de uma ordenha (KNIGHT et al., 1993).
O aleitamento artificial de cordeiros pode afetar as características de carcaça. Entretanto, segundo VERGARA & GALLEGO (1999), os resultados mostrando o efeito da quantidade de leite ingerida na carcaça, são bastante contraditórios. De acordo com a revisão realizada por estes autores, as carcaças de cordeiros com dietas restritas em leite, podem apresentar mais gordura tissular, do que as de cordeiros que consumiram leite à vontade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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